domingo, 4 de março de 2012

As Mulheres das Ilhas de Porto Alegre

Quero dedicar este texto, As Mulheres das Ilhas de Porto Alegre, que com coragem, sabedoria e resistência conseguem criar seus filhos(as), sustentar suas famílias, matar dez leões por dia para manter a espinha erguida e seguir em frente lutando para ter uma vida digna.
Salve Vânias, Jussaras, Nazarés, Curucas, Pedros, Laurindos, Roses, Marias, Josés, Joanas e todas(os) os(as) moradores(as) das Ilhas!

AS MULHERES DAS ILHAS DE PORTO ALEGRE

Conhecer mais de perto a realidade das mulheres e homens das Ilhas de Porto Alegre me causou muita alegria e também indignação.

Sempre me reporto a falta de estrutura e saneamento básico, da Vila Castelo onde trabalho todos os dias na Restinga. A situação é lastimável, precária, e causa indignação, pois acredito que todas as pessoas precisam viver com dignidade. Mas a realidade das Ilhas é impactante, pois além de falta de estrutura, a precariedade e falta das políticas públicas que são de responsabilidade do Prefeito de Porto Alegre, é assustadora.

Conversamos com muitos(as) moradores(as) e as falas foram uníssonas:

- “Só tem água na madrugada”...
- “Não queremos gatos na luz. Meu filho toma insulina e não tenho onde guardar, corremos riscos de incêndio diariamente”...
- “Onde estão os direitos humanos, nós somos humanos”...
- ”No inverno é muito mais triste”...
- “Quem mora no fundão não tem acesso a nada”...
- “ Nossas crianças não tem creche. As vagas são poucas, e aí como se faz para trabalhar”...
- “ Aqui não entra nada, nem taxi, nem ônibus, nem nada”...
- “ Somos discriminados(as) porque moramos nas Ilhas”...
- “ Somos gente de bem”...

As Ilhas, a Vila Castelo e tantos outros lugares da nossa grande cidade, nunca aparecem nas propagandas na televisão e nem apareceram na novela: “A vida da gente”.
Observando e fazendo a crítica das prioridades desta gestão municipal, com certeza, nossa cidade não é para todas as pessoas que nela vivem.
Desejamos que todas as pessoas tenham acesso as politicas públicas, pois como sabiamente uma moradora falou: “Queremos uma vida civilizada, digna, chega de sofrer”.

Algumas constatações:

@ Nas Ilhas existe uma Escola de Educação Infantil pública e uma privada;
@ 4 escolas estaduais, sendo que na Ilha do Pavão não tem escola;
@ Programa de saúde da família: Ilha das Flores e Marinheiros e outras comunidades menores, atendem 4.049 pessoas, já na Ilha da Pintada e Mauá são 3.287 cadastrados(as), e não funciona o dia todo, nem nos finais de semana;
@ Na Ilha do Pavão existe uma unidade básica de saúde mantida pelo Hospital Ernesto Dornelles, e este serviço foi elogiado pela população;
@ Existe uma unidade da FASC na Ilha dos Marinheiros;
@ A farmácia distrital mais próxima é fora das Ilhas, no bairro São Geraldo;



Algumas conclusões:

Deixei para tratar da questão do transporte coletivo nas conclusões, pois tendo em vista o quadro de constatações acima apresentado, concluo que TODAS as pessoas das Ilhas de Porto Alegre são heróis e heroínas de “guerra”.
Com certeza os “olhos da gestão pública municipal estão distantes de reconhecer que o povo das Ilhas estão abaixo da linha da pobreza e precisam com URGÊNCIA de políticas públicas eficientes que atendam as demandas dos(as) moradores(as) em todos os aspectos das suas vidas.

A Ilha da Pintada é a única que possui transporte coletivo de referência e funciona só nos dias úteis.

Não existem coletivos públicos para circulação da população no interior nas demais Ilhas. O acesso aos transportes coletivos existentes ocorrem nos terminais que se localizam na BR/116.

Tendo acesso a estes dados em relação ao transporte, não posso deixar de perguntar a administração pública municipal de Porto Alegre:

1- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre com moradias desumanas?
2- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre sem acesso e sem escola para todos(as)?
3- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre sem creche para todos(as)?
4- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre com fios de alta tensão prestes a incendiar a qualquer momento?
5- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre sem transporte para todos(as) e os equipamentos da saúde com horários reduzidos, sem funcionar nos finais de semana? Isto é o próprio caos da administração pública, pois a população das Ilhas não “podem” ficar doentes nos finais de semana?
6- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre com 1 equipamento da Assistência Social, num dos lugares de maior vulnerabilidade social da cidade?
7- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre sem uma farmácia distrital, já que o transporte é muito precário, fica longe da casa da maioria das pessoas, e ainda por cima não funciona com regularidade.

Tenho estas perguntas e muitas mais para fazer ao Prefeito de Porto Alegre, e seu jargão de campanha faz jus a sua administração.

“ Eu curto, Eu cuido”. Significa exatamente a transferência da responsabilidade de administrar a cidade de Porto Alegre para o povo. O prefeito conclama as moradoras(es) a cuidar da capital gaúcha, e em contrapartida as populações das periferias sofrem todas estas privações citadas acima e tantas outras que não foram colocadas pelos(as) moradores(as) das Ilhas.

Finalizo afirmando que precisamos ficar DE OLHO nas promessas de campanha, nas propagandas eleitoreiras, na realidade da nossa cidade e em tudo que já foi prometido e não foi realizado.

“As Mulheres não querem mais esperar! O 08 de Março de 2012 deve ter uma cara nova. Esse é um ano eleitoral e precisamos fazer com as conquistas das gerações anteriores se transformem em uma nova geração de mulheres ocupando os espaços de poder também nas cidades.
Temos a chance de eleger mulheres comprometidas com a Porto Alegre dos nossos sonhos: inovadora, moderna, a serviço das pessoas que vivem na cidade.
Com sensibilidade e atitude as Mulheres fazem o novo. Elegemos a Presidenta, agora queremos a Prefeita”!

Referências:

Site do Hospital Ernesto Dornelles
Balanço Social 2010. Hospital Moinhos de Vento. SMS/PMPA, 2012.
PMPA, 2012, SEC/RS, 2012
Texto da UBM sobre o 08 de Março: Dia Internacional da Mulher

Um comentário:

  1. Vamos juntas lutar na Câmara Municipal de Porto Alegre pelos cidadãos das ilhas, da Vila Castelo, e de tantos outros ignorados pela administração municipal. Mulheres como tu, professora Silvana, fazem o Brasil mais digno.
    Santa Irene

    ResponderExcluir