quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Educação Saindo do Armário - Fios e Tramas do Arco-Iris

A Educação Saindo do Armário
Fios e Tramas do Arco-Iris

...“Alguém é homo, lés, bi, trans, travesti ou heterossexual à revelia de qualquer pré determinação? Mas podemos dizer que somos bichas, sapas, travas e/ou porque ao sermos interpeladas no lugar de abjeto (ignóeis, bizarras, queer, desprezieis, inumanas) nos vimos diante de uma possibilidade: sermos assujeitadas e/ou de ressignificarmos nossas vidas.”

1. A Educação como Ferramenta de Emancipação

Acredito que a educação é uma das ferramentas de transformação desta sociedade que exige um padrão de “normalidade” que acaba privilegiando quem é homem... branco... heterossexual... quem tem dinheiro... quem tem um padrão estético de beleza exigido pelas passarelas da moda vigente.
Para a construção do sujeito político, conhecer e agir são dimensões inseparáveis. A produção do conhecimento é também uma esfera da dominação masculina, dominação simbólica, diretamente voltada para reprodução da dominação e da exploração material, patriarcal e capitalista.

2. A Educação como aparato ideológico do Estado
Precisamos definir qual é o nosso papel enquanto educadoras(es) comprometidas(os) com a transformação desta sociedade burguesa, homofóbica, lesbofóbica, racista, machista, onde o valor do capital é o elemento considerado essencial. Esta preocupação também está explícita nas palavras de Paulo Freire, citado em Mello (2008, p. 44):
"Quando eu me pergunto, por exemplo, a favor de quem eu conheço, contra quem eu conheço, e, portanto, a favor de quem e contra quem eu trabalho em educação, eu estou, obviamente, no campo político. Eu preciso explicitar, são perguntas que eu não posso deixar entre parênteses, e elas todas têm que ver com meu sonho como educador(a). O meu sonho não é só pedagógico, ele é substantivamente político e adjetivamente pedagógico. É impossível admitir que a educação seja um que fazer neutro ou tecnicamente neutro, precisamente porque a educação se apresenta à luz das perguntas radicadas na própria prática, e não nos livros"(...).

Se a escola reflete o modelo social no qual está inserida, isso significa que nela também estão presentes as práticas das desigualdades sociais, culturais e econômicas entre mulheres e homens, negros(as) e não negros(as), lésbicas, gueis, travestis, transexuais, e outros segmentos da sociedade.
A escola, como aparato ideológico conectada com o Estado, está profundamente comprometida com a reprodução das relações de dominação e exploração, consolidando assim não somente a marginalização da identidade da classe trabalhadora, mas também das “minorias” no currículo escolar. A escola é um importante agente de difusão de visões discriminatórias e práticas racistas. Todavia, a escola também pode vir a ser um espaço de resistência ao racismo, ao preconceito, espaço de contestação, de crítica, de debate, de socialização de visões progressistas, humanistas, abertas às diferenças, mas intolerante para com a desigualdade de oportunidades e qualquer tipo de violência e opressão. Nessa perspectiva acredito que a Escola deve tratar das relações de gênero, raça/etnia, orientação sexual em todos os níveis e modalidades de ensino, desde a Educação Infantil.



3. A Educação Saindo do Armário
Fios e Tramas do Arco-Iris
Uma das alternativas possíveis para modificarmos este cenário opressor, discriminatório e preconceituoso da sociedade, é investirmos em uma educação de qualidade, que se comprometa com o acesso e a permanência das(os) estudantes, respeitando suas histórias, suas culturas, suas especificidades, na busca de ser uma ferramenta importante para termos uma sociedade mais solidária, mais justa em que todos os sujeitos tenham a possibilidade de exercer sua cidadania.
A visão individualista e competitiva dominante da sociedade capitalista tende a fazer as pessoas se sentirem responsáveis pela própria situação e a produzirem um grande sentimento de solidão.
A sociedade brasileira precisa conhecer e respeitar as pessoas que estão atrás das “letrinhas” do arco-íris, pois estas, como quaisquer outras, necessitam de políticas públicas a fim de poderem ter uma vida digna com educação, saúde, justiça e segurança pública, cultura, trabalho e geração de renda, turismo, comunicação, esportes, igualdade racial, assistência social, habitação, dentre outras.
Além de militantes do movimento pela livre orientação e expressão sexual, fazemos a luta de idéias, somos formadoras(es) de opinião e temos a responsabilidade de estudar, produzir teorias, fazer a disputa prática e teórica de conceitos que devem ser aprofundados e modificados conforme a necessidade do momento histórico em que vivemos.
Queremos um Brasil forte, soberano, democrático, com um novo projeto nacional de desenvolvimento e justiça social. Que consolide um Sistema Nacional de Educação, com prioridade para a educação pública e gratuita, garantindo sua qualidade e seu caráter científico, crítico e laico.
Acredito que chegará o dia em que todas as pessoas serão livres, terão trabalho, terão casa, terão comida, terão acesso à educação, à saúde, à cultura e a tudo mais que desejarem. Pessoas que terão direito de viver, amar, sonhar. Pessoas que terão direito de sorrir e ser feliz. Nesta sociedade não teremos classes sociais, não teremos racismo, mulheres e homens terão os mesmos direitos e oportunidades e todas as pessoas poderão apenas “SER”: sem letrinhas, sem caixinhas, sem rótulos. Apenas ser. Nestes novos tempos, os fios e as tramas do arco-íris serão muito mais coloridos, já que o sol vai brilhar para todas as pessoas.
Temos que avançar “para além'' da solidariedade. As questões da livre orientação e expressão sexual precisam deixar de ser um debate só nosso, e se tornarem uma bandeira de toda a sociedade brasileira.

REFERÊNCIAS:

CONTI, Silvana B. Fios e Tramas do Arco-Íris. Revista Princípios, Nº 96, Julho/2008

CONTI, Silvana B. Educação e lesbianidades: educando para a diversidade. In: PASINI, Elisiane (org.). Educando para a diversidade. Porto Alegre: Nuances, 2007.

POCAHI, Fernando. Um mundo de injurias e outras violações: reflexões sobre a violência heterossexista e homofóbica a partir da experiência do Centro de Referência em Direitos Humanos. Rompendo o silêncio. Nuances, 2007.

LOURO, Guacira. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

MELLO, Marco. Paulo Freire e a educação popular: reafirmando o compromisso com a emancipação das classes populares. Porto Alegre: IPPOA; ATEMPA, 2008.

PARO, Henrique Vitor. A Teoria do valor em Marx e a educação. São Paulo. 2006

4 comentários:

  1. Querida Silvana

    Parabéns pelo blog e pelo exercício da atitude de blogar.

    De imediato é uma honra te convidar para o 2º Encontro de Blogueiros Progressistas, que está previsto para final de abril. A próxima reunião da Comissão Organizadora será dia 29 de fevereiro às 18h30min no Ponto de Cultura La Integración, na Rua Santana 260. Tua participação seria muito importante. Abração!

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  2. Querido Igor!
    Agradeço o apoio. Estou iniciando, e adoro desafios. Infelizmente não poderei comparecer a reunião, pois temos reunião da UBM no mesmo dia e horário. Bj.

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  3. Muito bacana, cara camarada! Considero bem importante essa socialização das reflexões!!
    um forte abraço!

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  4. A possibilidade de viver a sexualidade sem rótulos, livremente, do jeito q nos faz mais feliz ainda é uma utopia, mas q como afirma Rosiska Darcy de Oliveira, pode escapar da gaiola. E vem escapando cd dia um pouquinho mais... Lamentavelmente nas diversas sociedades ainda há fatias 'generosas' da população q se deixam reger por pensamentos conservadores. Não só conservadores,mas o q é pior, fundamentalistas. Tudo isso tu já sabes...Mas há brechas, não há sistema por mais opressor q seja q não abrigue pessoas mais libertárias querendo respirar junto um mundo mais honesto! E aí nos encontramos e fazemos parcerias e unimos forças. Acredito muito nas movimentações estratégicas, pacíficas e cotidianas. Apoio.E gosto muito de engrossar o caldo rsrsrs Q os tambores continuem a rugir!

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